Pós-Milenarismo: A Era de Glória e a Esperança Renovada

O Pós-Milenarismo é uma das interpretações teológicas do milenarismo, que se concentra na visão otimista de que a humanidade irá gradualmente melhorar e atingir um período de paz e prosperidade antes da segunda vinda de Cristo. Ao contrário do pré-milenarismo, que acredita que a segunda vinda de Cristo ocorrerá antes do milênio, e do amilenarismo, que sustenta que o milênio é uma metáfora para a era da igreja, o pós-milenarismo vê o milênio como um período de tempo literal de mil anos em que o reino de Deus será estabelecido na terra.

Os pós-milenaristas acreditam que a igreja desempenhará um papel fundamental na realização do reino de Deus na terra, promovendo a justiça social, a educação, a ciência e a tecnologia. Eles acreditam que a pregação do evangelho e a conversão em massa levarão a uma transformação da cultura e da sociedade, eliminando a pobreza, a guerra e a opressão.

Embora o Pós-Milenarismo tenha sido uma visão popular entre os reformadores protestantes, a sua popularidade diminuiu no século XX devido a eventos como as duas guerras mundiais e as guerras civis em vários países. Hoje em dia, muitos cristãos adotam outras visões do milenarismo, embora alguns ainda defendam esta corrente escatológica como uma visão otimista e esperançosa para o futuro da humanidade.

Pós-Milenarismo

Ascensão do Pós-Milenarismo

O Pós-Milenarismo teve uma influência significativa na história da teologia cristã, especialmente durante a Reforma Protestante do século XVI. Reformadores como João Calvino e Martinho Lutero eram pós-milenaristas e acreditavam que o reino de Deus seria estabelecido na terra antes da segunda vinda de Cristo. Essa visão era compartilhada por muitos outros líderes religiosos e políticos da época, que acreditavam que o cristianismo poderia ser usado para transformar a sociedade e criar um mundo melhor.

No entanto, a visão pós-milenarista perdeu popularidade ao longo do tempo devido a eventos como as guerras mundiais, as tensões políticas e sociais, e a crescente descrença na capacidade da humanidade de criar um mundo perfeito. Isso levou muitos cristãos a adotar outras visões do milenarismo, como o pré-milenarismo ou o amilenarismo.

No entanto, nos últimos anos, houve um ressurgimento do interesse pelo Pós-Milenarismo, especialmente entre os cristãos reformados e os defensores da teologia da reconstrução. Muitos desses defensores acreditam que a igreja deve ser ativa na transformação da cultura e da sociedade, e que o evangelho pode ser usado para criar um mundo melhor.

Apesar do aumento do interesse no pós-milenarismo, é importante notar que ainda há muita controvérsia em torno dessa visão teológica e muitos cristãos continuam a adotar outras interpretações do milenarismo.

Objeção ao Pós-Milenarismo

Há várias objeções ao Pós-Milenarismo. Uma das principais críticas é a de que a visão otimista de uma transformação gradual da sociedade é demasiadamente idealista e não reflete a realidade do mundo em que vivemos. Muitas pessoas argumentam que a história mostra que a humanidade é incapaz de criar um mundo perfeito através dos seus próprios esforços, e que a única esperança de salvação reside na intervenção divina através da segunda vinda de Cristo.

Outra crítica comum é que esta doutrina pode levar a uma ênfase excessiva na política e na transformação social, em detrimento do evangelismo e da salvação pessoal. Algumas pessoas argumentam que a igreja deve se concentrar em pregar o evangelho e em levar as pessoas a Cristo, em vez de se envolver em questões políticas e sociais.

Além disso, alguns críticos do Pós-Milenarismo afirmam que essa visão teológica pode levar a uma forma de legalismo, em que a salvação é vista como dependente das obras humanas e da transformação da sociedade. Isso pode levar a uma falta de ênfase na graça salvadora de Deus e na necessidade de arrependimento e fé em Cristo como a única forma de salvação.

Por fim, outros argumentam que a visão pós-milenarista não tem uma base sólida nas Escrituras e que interpretações bíblicas alternativas, como o pré-milenarismo ou o amilenarismo, são mais fiéis ao que a Bíblia ensina sobre a segunda vinda de Cristo e o estabelecimento do reino de Deus na terra.

Base Bíblica

Os defensores do Pós-Milenarismo argumentam que existem várias passagens bíblicas que sustentam essa visão teológica. Algumas dessas passagens incluem:

  • Mateus 28:18-20 – A Grande Comissão, onde Jesus ordena que seus discípulos façam discípulos de todas as nações e ensinem a observar tudo o que Ele ordenou.
  • Salmos 2:8 – Deus promete dar as nações como herança ao Messias, e a terra como sua possessão.
  • Isaías 9:7 – Profecia sobre o governo de um filho que trará a paz e a justiça à terra.
  • Isaías 11:9 – Profecia sobre o conhecimento de Deus que encherá a terra como as águas cobrem o mar.
  • Isaías 65:17-25 – Profecia sobre um novo céu e uma nova terra onde a morte, a dor e o sofrimento serão eliminados.
  • Apocalipse 20:4-6 – Referência ao milênio, um período de tempo em que Cristo reinará na terra.

Os pós-milenaristas argumentam que essas passagens bíblicas apontam para um futuro de paz e justiça na terra antes da segunda vinda de Cristo. Eles também enfatizam que a igreja tem um papel fundamental a desempenhar na realização desse futuro, através da pregação do evangelho e da promoção da justiça social, da educação e da ciência. No entanto, é importante notar que outras interpretações teológicas também usam essas passagens bíblicas para apoiar suas visões, e que não há um consenso claro entre os estudiosos sobre a interpretação correta desses textos.

Teólogos Pós-Milenaristas

Alguns dos principais teólogos que defendem o Pós-Milenarismo incluem:

  • Jonathan Edwards — Um dos maiores teólogos da tradição reformada, Edwards acreditava que o reino de Deus seria estabelecido na terra antes da segunda vinda de Cristo.
  • Charles Hodge — Um importante teólogo presbiteriano do século XIX, Hodge defendeu a doutrina pós-milenarista em sua obra Systematic Theology.
  • Rousas John Rushdoony — Um teólogo calvinista e fundador do movimento reconstrucionista cristão, que defendia a transformação da sociedade em conformidade com a lei de Deus.
  • Gary North — Outro proeminente reconstrucionista cristão, que enfatizou a importância da educação cristã e da criação de instituições cristãs para transformar a sociedade.
  • Greg Bahnsen – Um filósofo e teólogo presbiteriano que também defendeu o reconstrucionismo cristão e o pós-milenarista.
  • Kenneth Gentry — Um teólogo presbiteriano que defende o Pós-Milenarismo e o reconstrucionismo cristão, que argumenta que a igreja deve se envolver em todas as áreas da vida, incluindo a política, para promover a transformação social em nome de Cristo.
  • Esses teólogos influenciam muitos cristãos e movimentos sociais ao longo da história, promovendo uma visão otimista de uma sociedade transformada pela influência do evangelho.

Igrejas Pós-Milenarismo

Não há igrejas específicas que se identifiquem exclusivamente como pós-milenaristas, pois essa é uma posição teológica adotada individualmente por crentes e teólogos de diferentes denominações. No entanto, algumas denominações evangélicas e reformadas podem ter uma visão semelhante à do pós-milenarismo em relação à transformação social e à missão da igreja. Alguns exemplos incluem:

Igrejas Presbiterianas – As igrejas presbiterianas, em geral, enfatizam a importância da transformação social em nome de Cristo e acreditam que a igreja tem um papel fundamental nessa missão. Muitos teólogos presbiterianos, como Jonathan Edwards e Charles Hodge, eram pós-milenaristas.

Igrejas Anglicanas – A Igreja Anglicana tem uma tradição histórica de envolvimento social e político, e muitas vezes enfatiza a importância do trabalho social e da justiça social em nome de Cristo.

Igrejas Reformadas – A tradição reformada tem uma ênfase na transformação social e na justiça social em nome de Cristo, e muitos teólogos reformados, como Abraham Kuyper e Herman Bavinck, acreditavam na possibilidade de uma transformação social ampla e duradoura.

É importante ressaltar que essas denominações não se identificam exclusivamente como pós-milenaristas e podem ter uma variedade de opiniões teológicas dentro de suas fileiras.

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ADILSON CARDOSO

Adilson Cardoso: Teólogo, Filósofo — Professor de Filosofia, Teologia, Hebraico e Grego.

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