Vida Examinada — Um estudo sobre a vida de Sócrates

Vida Examinada. Refletir, avaliar, questionar e buscar a sabedoria. Eis aí os valores de Sócrates que transcende a mediocridade e sobrepõe a ignorância. Conheça o pensamento deste grande Filósofo, e faça a diferença nesta sociedade egoísta, hedonista, imoral e cruel.

Sócrates era um homem de convicções muito fortes. Valorizava e buscava constantemente o conhecimento, a verdadeira sabedoria, a piedade e a convicção para viver sua vida seguindo a vontade de “deus”. Na Dialética de Platão, Sócrates defendeu apaixonadamente o seu modo de vida, pautado nos valores morais e éticos.

Ele acreditava que este modo de vida não só é correto em todos os sentidos da palavra, mas também enriquece a si próprio e àqueles com quem entra em contato. Isto era o que ele tinha em mente quando disse: “Senhores de Atenas, intercedo agora não em meu nome, mas em vosso, pois escolhi viver uma vida de verdadeiro conhecimento”.

Sócrates começa a sua argumentação “virando de pernas para o ar” a ideia geral do que é o verdadeiro conhecimento. Sócrates questiona, com muita ironia, a questão daqueles que são considerados sábios. Se eu tivesse este conhecimento, estaria certamente orgulhoso e regozijado, mas não o tenho, “cavalheiros” (25, 20c), não dizendo que ele próprio tem este conhecimento, mas argumentando que este conhecimento não é a verdadeira sabedoria.

E não leva a uma “vida examinada”. “O que fez a minha reputação é nada menos do que certa sabedoria” (25, 20d). Na verdade, Sócrates acredita na verdadeira sabedoria, sendo a curiosidade. A sabedoria que ganhou veio do estudo da sua própria vida e da vida dos outros.

Não busca seus próprios interesses

Vida examinada em detrimento do exame coletivo.  Sócrates não estava preocupado com o interesse próprio ou ‘conhecimento’, como supostamente os homens mais sábios. Pelo contrário, ele estava firmemente enraizado na vontade de “deus” e aceitava abnegadamente o desafio de explorar a vida. Sócrates, por exemplo, pensa que é mais sábio porque sabe que não sabe nada. Não sei e não tenciono saber, mas talvez então me torne mais sábio. (26, 21d).

Sócrates apoia o seu argumento com uma declaração, dizendo ao júri que prefere ser como é, sem conhecimento e ignorante, do que ser como as pessoas ‘sábias’ e ter ambas: ‘Perguntei-me a mim mesmo. A resposta que dei a mim e ao oráculo foi: “É me mais vantajoso ser o que sou” (27:22e).

Finalmente, ele diz ao júri que a mensagem do oráculo apresenta Sócrates como um exemplo para outros, como se ele dissesse: ‘Este homem entre vós sois o mais sábio de todos, como Sócrates, que compreende que a sua sabedoria é inútil. (27, 23b) e interpreta Ele diz.

Sócrates acreditava que uma vida examinada era uma busca de sabedoria interior e espiritual, questionando e estudando as vidas dos outros, procurando o melhor estado de espírito, cuidando do seu corpo e dos seus bens tão favoravelmente ou tanto quanto ao melhor estado de espírito. (34, 30b). Questionou aqueles que pensavam ter sabedoria e ajudou-os a ver que aquilo pelo qual eles lutavam na vida não era o caminho para a verdadeira sabedoria ou contentamento.

A afirmação de Sócrates de que “a vida não refletida é inútil ser vivida” faz sentido de uma perspectiva, mas é falsa na perspectiva daqueles que não têm nenhuma ligação com tal sabedoria e nenhuma motivação para a procurar. É o mesmo princípio que “a ignorância é uma bênção”. Pode-se viver uma vida muito feliz, embora simples, sem fazer nada que alguém como Sócrates se atreveria a pedir.

No entanto, seria muito insatisfatório para aqueles que, como Sócrates, são apaixonados por compreender a essência e a verdadeira sabedoria, não seguirem este desejo.

Por outras palavras, do ponto de vista de Sócrates, esta afirmação faz sentido e deve ser verdadeira para aqueles que possuem tal curiosidade, mas do ponto de vista de muitos outros, simplesmente não é aplicável.

Poder-se-ia argumentar que uma vida que ignora a verdadeira sabedoria é, com certeza, um modo de vida sem valor, que só vem de fora. Pensa-se que Sócrates raciocina apenas do ponto de vista de uma pessoa com conhecimentos, e não considera a possibilidade da existência daqueles que não se sentem incomodados pela curiosidade, ou movidos pela dúvida, haja vista, a curiosidade ser condição necessária na busca do conhecimento.

Vida examinada — Fugir ou não Fugir

Vida examinada – Sócrates deixa transparecer que um homem pode fugir da prisão, mas, não pode fugir de si mesmo. Ele conduz um argumento muito forte nos diálogos, Apologia e Críton: na Apologia ele afirma que se fosse livre, continuaria a viver como tem vivido. Ele acredita sinceramente que o que faz — fazer perguntas, procurar respostas e lutar pela verdadeira sabedoria — é a forma correta de viver.

É dado por “deus” e ele cumpre simplesmente o seu dever. Sócrates argumenta dever fazer o que é correto, praticar a justiça e retidão, se for contra a lei, deve certamente fazê-lo, porque o que é prescrito por Deus é mais importante do que o que é prescrito pelo Estado, ou seja, a lei. Nada deve preceder justiça e retidão.

Mais tarde, em Críton, Sócrates encontra Críton, a quem é dito para ele fugir e preservar sua vida. Neste diálogo, Sócrates argumenta ser realmente errado infringir a lei, mesmo que a condenação não seja justificada. Em tais situações a lei tem precedência sobretudo o resto.

Ele diz que se fugir, viverá como um mau exemplo daquilo em que acredita, e preferiria enfrentar a sua morte a viver a sua vida como um covarde ou, pelo menos, ser marcado como covarde. Críton apresenta várias razões pelas quais Sócrates deve fugir.

Ele menciona a sua reputação e será sempre desprezado como alguém que valoriza mais o dinheiro do que os amigos. Fala então de como acredita que aqueles que o condenam à morte são de fato seus inimigos. Tem de fazer o que não é do interesse deles, pelo que tem de fugir para os desafiar. Por fim, Críton diz que Sócrates estaria errado em desistir dos seus próprios filhos.

Tem de se convencer de que os seus filhos precisam de uma figura paterna para os educar adequadamente. Sócrates ouve atentamente cada uma destas razões para fugir, mas no final ainda se recusa a fugir. O seu argumento é que a lei, por mais injusta que possa parecer, não deve ser infringida.

Por isso, na sua defesa, argumenta o que devemos fazer, o que julgamos ser correto. Por outras palavras, Sócrates acreditava que o seu modo de vida era prescrito por “deus”, pelo que deveria seguir esse caminho, independentemente do que acontecesse.

Em contrapartida, Críton argumenta ser errado infringir a lei, mesmo que pareça injusto. Ele apoia estes argumentos com a sua própria situação. No primeiro caso, a lógica é que é apenas para levar um modo de vida prescrito por “deus”, que tem precedência sobre o resto; no segundo, é errado ir contra o governo, mesmo que a sua decisão seja injusta.

Tendo lido e rastreado cada uma destas situações e analisado as palavras de Sócrates em cada caso, pode-se concluir que elas se contradizem. No seu ‘Dialético’ Sócrates fala sobre os males da política e da corrupção.

Como pensa que eu teria sobrevivido estes anos se me tivesse envolvido em assuntos públicos, se tivesse comportado como um bom homem, se tivesse ajudado a justiça e se a tivesse considerado da maior importância.

O povo de Atenas ou qualquer outra nação não está muito atrasado (37, 32e). Sócrates, apontando a corrupção do sistema judicial, defendeu-se dizendo que o que faz é simplesmente o que “deus” lhe ordenou que fizesse.

Vida Examinada — Valores e Princípios

Vida examinada possibilita entender que os princípios e valores sobrepõe a morte. Sócrates recusa-se a viver de qualquer outra forma, mesmo que isso signifique abdicar da sua própria vida. Mais tarde, em Críton, Sócrates opôs-se a ele, dizendo ser errado ir e salvar-se da morte porque é contra a lei. Ele também deixa claro que os seus valores e princípios não mudaram.

Vida examinada

Diz que ainda se mantém fiel ao que disse no passado, e que ainda se mantém fiel aos valores que mantinha então. Isto é evidente pela sua afirmação de que “agora que sofri um tal destino, não posso rejeitar os argumentos que utilizei, eles parecem-me muito semelhantes. Aprecio e respeito os mesmos princípios que antes”. (48), 46b).

Considerações Finais

Sócrates a vida examinada é um tratado moral e ético, cujo valor extrapola qualquer compreensão humana. Trata-se da valorização e preservação da fidelidade da consciência.

Não basta ao homem apenas discursar sobre aquilo que defende e prega, mas, também, ser fiel aos valores da consciência, mesmo que isto lhe custe a vida.

A vida examinada e refletida, nos coloca acima da mediocridade. Pois, é no autoexame que encontrávamos nossas falhas, orgulhos e insignificância diante deste Universo caótico.

Razões para acreditar em Deus

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ADILSON CARDOSO

Adilson Cardoso: Teólogo, Filósofo — Professor de Filosofia, Teologia, Hebraico e Grego.

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