Predestinação ou Livre-arbítrio? Eis a pergunta! Não existe via média, haja vista, um excluir o outro. Ou crê-se no predeterminismo, ou na liberdade plena. Este tema é polêmico e muito debatido desde a Reforma Protestante. Embora estudado e discutido em todas as vertentes do cristianismo, no entanto, nunca se chegaram ao consenso. Por isso, este Artigo foi produzido com a tarefa de trazer este tema à luz com novas ideias.
Sob as lentes da Teologia e da Filosofia recai nossa análise, não é nossa intenção diminuir um lado e exaltar o outro. Entretanto, é impossível tratar de um tema tão complexo e não concluir que um dos lados sobressai ao outro. No final, ganha o leitor, o seminarista ou, apenas um estudante comum da Bíblia. Pois, tenho certeza de que este tratado ajudará você encontrar sua posição teológica relacionada ao tema proposto, predestinação ou Livre-arbítrio.
PREDESTINAÇÃO
Predestinação é uma palavra oriunda da fusão do prefixo “Pre”, que significa (antes) e “destinação” (destino). Ou seja, o destino de cada indivíduo foi predeterminado pelo Criador desde a sua concepção. Em outras palavras, Deus criou uns para serem salvos e outros para perdição eterna.
Para piorar, não há nada que o predestinado possa fazer, pois, sobressai a vontade Soberana do Criador. Ainda que a pessoa desejar a salvação, não a terá, e os que não desejarem, serão obrigados a aceitar. Isto não é nada mais do que impor a aceitação de algo, bem como violar o bem maior, o livre-arbítrio.
DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO
A Doutrina da Predestinação originou no Século IV com o Filósofo e Teólogo Agostinho de Hipona, todavia, quem sistematizou e disseminou foi João Calvino. Surge daí a nomenclatura “calvinista” para todos os seus seguidores.
Predestinação ou Livre-arbítrio? Segundo Calvino: a salvação provém integralmente do Criador; o homem não pode fazer nada para alcançar sua salvação. Caso ele, o homem, se arrepender, crer e for até Cristo, é devido à atração do Espírito Santo de Deus. A “depravação total” em decorrência da queda afetou a vontade do homem. Ele não pode se arrepender, crer e escolher sem a ajuda de Deus.
A máxima desta doutrina é: “Deus criou e predestinou alguns para serem salvos, e outros para o inferno”. Segue-se o raciocínio de Calvino: uma vez salvo, salvo para sempre, porque se Deus predestinou alguém para a salvação, este pode ser unicamente salvo e guardado pela graça de Deus, que é irresistível, sendo assim, o salvo não pode jamais perder a salvação.
Referências para a base da crença calvinista:
João 10:28-29; Romanos 11:29; Filipenses 1:6; 1 Pedro 1:5; Romanos 8:35; João 17:6
DOUTRINA DO LIVRE-ARBÍTRIO
A Doutrina do livre-arbítrio advém do Teólogo Jacob Armínio, ele nasceu em 10 de outubro de 1560 e morreu no dia 19 de outubro de 1609. O termo arminiano aplica-se a todos os seus seguidores. Os arminianos advogam que a vontade de Deus é que todos os homens sejam salvos, porque Cristo morreu por todos.
Predestinação ou Livre-arbítrio?
Assim como acreditam os calvinistas, a salvação é obra de Deus. Também, assim como creem os calvinistas na Soberania de Deus, os arminianos não negam este atributo do Criador. Embora, o homem seja livre para escolher, contudo, ele tem certas condições a cumprir para alcançar tal salvação. Ele pode aceitar ou rejeitar a graça salvadora de Deus. Seu direito de livre-arbítrio é respeitado por Deus.
Referências para a base da crença arminiana:
1 Timóteo 2:4-6; Hebreus 2:9; 2 Coríntios 5:14; Tito 2:11-12,
Predestinação ou Livre-arbítrio. Calvinistas ou Arminianos?
Calvinistas ou Arminianos? Quem será salvo? Talvez, este seja um debate vazio e inútil, pois, a base da salvação humana está ancorada na morte de Cristo no calvário. De fato, não se surpreenda, haverá tanto arminianos como calvinistas no céu. Uma vez no céu, o calvinista pode descobrir que teve sempre razão.
Talvez o arminiano descubra que, desde o início, tem tido razão. Mas uma coisa é certa: ambos podem chegar à conclusão de que estavam certos desde o início. Às duas doutrinas cristãs contradizem-se, e certamente uma delas será naufragada. Acreditamos firmemente que ambos os navios chegarão ao porto em segurança.
Como alguém que está a bordo de um navio arminianista, gostaria de lidar com um mito comum que existe neste navio. Trata-se da falsa ideia de que os arminianistas não acreditam na predestinação. Os arminianos abanam a cabeça perante o ridículo da acusação. Para rebater esta acusação absurda, partimos da premissa que: é obvio que os arminianos acreditam na predestinação.
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”. Romanos 8:29
Não da mesma forma e com o mesmo rigor, os arminianos também advogam com muita propriedade a favor da predestinação, haja vista, ela estar presente nas entrelinhas dos textos bíblicos.
No entanto, no que tange a pergunta Calvinistas ou Arminianos? Ele luta com a ideia de combinar o livre arbítrio com o determinismo. É claro que acreditamos na presciência de Deus. Deus sabe de antemão a decisão final e definitiva relativa a cada pessoa – Jesus Cristo.
Foco da predestinação
Acreditamos que o foco da predestinação deve ser, antes de qualquer coisa, Jesus Cristo. Deus sabia de antemão que Cristo faria a escolha certa em relação à Cruz. Deus predestinou a morte e a ressurreição de Jesus com base na decisão que Ele tomaria.
Acreditamos que o Calvinismo está naufragado em relação à questão da dupla predestinação. Não é lógico pensar que Deus predestinou que algumas pessoas acreditariam e iriam para o céu, e não predestinou que outras acreditariam e iriam para o inferno.
Condenação Injusta
Acreditamos que um Deus Santo, Justo e sem pecado não pode condenar de antemão as pessoas para o inferno. Isto contraria à natureza justa dele. Deus é o todo-poderoso, não se trata de limitar o poder dele. Ele pode fazer o que Lhe apetece, inclusive, salvar “todos aqueles que nele crê”. Ele não pode fazer nada que seja contrário à sua natureza. Pense nisto, caro amigo leitor:
“Se você pudesse condenar um dos seus filhos a passar a eternidade no inferno, qual deles você escolheria? Você consegue imaginar tal coisa?”
É ainda mais inimaginável que Deus nomeie pessoas para o inferno à Sua própria discrição antes de as pessoas terem tomado quaisquer decisões e tomado quaisquer ações que as tornassem responsáveis ou obrigadas.
Salvação oferecida a Todos — Predestinação ou Livre-arbítrio
A Bíblia ensina que Deus oferece salvação a todos. Confira as afirmações do próprio Deus:
- “Se alguém acreditar Nele.” — João 3,16.
- “Se alguém vier a Mim.” — Lucas 14,6.
- “Porque a graça de Deus que salva todos os homens foram reveladas.” — Tito 2:11
- Ele foi “O pagamento pelos pecados do mundo inteiro.” — 1 João 2:2
- “Provou a morte por todos” — Hebreus 2:9
- “Foi feito um resgate por todos.” — 1 Timóteo 2:6
Calvinistas ou Arminianos? Ambos declinam e se submetem as iniciativas de Deus. Esta é uma solução graciosa dada por Deus através do seu Filho Jesus Cristo para justificar e adotar todos os crentes. Deus não é hipócrita, se Ele estendeu este convite a todos, sabendo haver aqueles que se perderão. Assim, Armínio acreditava na predestinação, mas, é condicionado pelas escolhas que as pessoas fazem. A salvação é oferecida e cabe ao homem aceitar ou rejeitar livremente.
A Justiça de Deus — Predestinação ou Livre-arbítrio
Deus é justo, por isso, não condenará ninguém ao inferno. Também, ele não é injusto ao criar o inferno, pois, é o próprio homem com suas escolhas que decidirá onde quer passar a eternidade. Ou seja, quem condenará o humano a perdição eterna é o próprio humano.
A maioria das pessoas concordaria ser logicamente impossível que Deus predestinou alguém a ir para o céu e não para o inferno. Escolher algumas pessoas para o céu e não todas para o céu garante que algumas pessoas serão escolhidas para o inferno. Onde na Bíblia existe um único lugar nas Escrituras que diz que um Deus arbitrário enviará incondicionalmente pessoas para o inferno?
A Vontade de Deus
Porque a Bíblia ensina que a vontade de Deus é que ninguém deve perecer, mas que todos devem vir ao arrependimento — 2 Timóteo 2:4; 2 Pedro 3:9. Deus declara que Deseja plenamente que todos os homens sejam salvos. Mas Ele deu-lhes livre arbítrio e compreendeu que alguns devem ser punidos por desobediência porque não usaram sua liberdade como Ele desejava.
Armínio não desvaloriza o papel da fé na salvação. A fé é a única condição de eleição e uma dádiva de Deus. A fé não é a causa das eleições; só Deus é a causa das eleições. Portanto, Deus escolhe aqueles que têm fé Nele. A eleição é condicionada, não predeterminada por Deus, e Deus leva-a a cabo. Depende de uma pessoa querer ou não acreditar, e pode ou não acreditar.
A Vontade Humana
Deus permite esta liberdade da vontade humana porque Ele não é um Deus mordedor de unhas que leva as pessoas para o céu sem a sua permissão, quer queiram ou não, e atira-as para o inferno, quer sejam culpadas ou não”. A “escolha e predestinação” não é a escolha mística incondicional de uma determinada pessoa, conhecida apenas por Deus, mas a escolha e predestinação do crente em Jesus Cristo Redentor. Quanto a isto diz Philip Limborch:
“A teoria da reprovação absoluta (que, porque Deus escolheu uns para o céu, e deve escolher outros para o inferno é contrária à perfeita santidade, justiça, fidelidade, sabedoria e amor de Deus”. Limborch Philip, O Sistema Perfeito ou Corpo Divino, página 371.
Incompatível com a Natureza de Deus
O principal problema dos arminianos é que a predestinação incondicional é totalmente incompatível com a própria natureza de Deus. É uma vergonha para o nome de Deus impor ao pecador a resistência necessária que era para ele uma necessidade, e queixar-se em indignação do Espírito de Deus, cuja influência se manifesta apenas parcialmente”.
Confira a citação: William Barton Papa. “Deus condena os homens a um inferno eterno de ira sem lhes dar uma oportunidade de serem salvos dos seus pecados”. De acordo com os arminianos, isto é absurdo.
O Bom Senso — Predestinação ou Livre-arbítrio
Predestinação ou Livre-arbítrio? O bom senso e o equilíbrio são primordiais para entender a Bíblia. O calvinismo exalta a graça de Deus como a única fonte de salvação. Ao passo que o arminianismo acentua o livre-arbítrio, a liberdade e a responsabilidade do homem.
Calvinistas ou Arminianos? O caminho é evitar os extremos. Quando a pessoa entende que é predestinada e nunca perderá a salvação, então, a possibilidade de ela ser individualista, egoísta e descuidada é grande. Em contrapartida, alguém pode até cair numa depressão profunda por achar que seu ente querido não foi escolhido por Deus, apesar das orações para a conversão dele.
Se a base da salvação humana repousa na pessoa de Cristo e não em correntes teológicas, então, arminianos e calvinistas serão salvos e se encontrarão no céu, para surpresa de muitos.
Liberdade Completa
Predestinação ou Livre-arbítrio? A palavra livre arbítrio em seu sentido amplo remete a liberdade completa. Embora haja quem advoga ao contrário, dizem que o homem não é totalmente livre. Exemplo, a pessoa não é livre para matar ou sair pelado na rua. Embora, haja algo razoável neste entendimento, no entanto, suprime o propósito primeiro, que é a liberdade total.
Deus colocou a árvore do bem e do mal no jardim do Eden. A orientação era para não comer do fruto mal. Isto indica que eles tinham liberdade total para comer ou não comer o fruto. É fato, as escolhas trazem consequências boas ou ruins, entretanto, não elimina o livre-arbítrio.
Se alguém quiser matar ou sair pelado na rua, nada os impedirá de fazer isto, a pessoa é totalmente livre para decidir entre fazer ou não fazer. Todavia, com certeza sofrerá punição, será encarcerada pelos seus atos insanos.
Agora vamos filosofar um pouco, pense comigo! Se Deus deu o livre-arbítrio ao homem, então, não o poderá predestiná-lo a condenação ou a salvação, é o homem quem decidirá seu futuro. Contudo, se Deus escolhe quem será salvo ou condenado, então, não existe livre-arbítrio.
Eis aí um paradoxo, afinal, ou Deus deu, ou não deu o tal livre-arbítrio. Pois, o princípio supremo da lógica é a lei da não contradição, ou seja, uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, princípio e relação. Deus não pode ter dado e tirado a liberdade humana em simultâneo.
A JUSTIÇA DE DEUS
Deus é justo, Calvinistas ou Arminianos não divergem neste assunto. Todavia, Deus é justo ao criar uma criança inocente e condená-la ao inferno, no ventre da mãe? Sem que ela tenha nenhum entendimento sobre Deus, pecado ou perdição. Soma-se a isto outras indagações: qual critério de escolha? Por que Deus ama uns e rejeita outros? Embora, ambos advogam que Deus é justo, contudo, não apontam uma definição de justiça.
A balança de dois pratos
Para tentar elucidar isto, pode-se usar o símbolo do direito, a balança de dois pratos. Um juiz justo é aquele imparcial, que não tem lados, partidos ou preferências por pessoas. A justiça exige que ambos os pratos tenham o mesmo peso sem pender para um lado ou outro.
Deus é juiz justo, a justiça é um dos seus atributos. Sendo assim, a base de suas ações é a distribuição e aplicação da justiça. Deus ama todos e quer que todos sejam salvos, isto é justiça.
O JULGAMENTO DE DEUS — Predestinação ou Livre-arbítrio
A Bíblia é enfática em afirmar, Deus irá julgar a humanidade. Todos deverão comparecer diante dos tribunais de Deus para prestarem contas de seus atos, quer sejam bons, quer sejam ruins. É fato, todo joelho se dobrará.
Agora, caro amigo leitor! Pensa na seguinte cena: José não foi predestinado para a salvação. Ele até desejou, buscou e foi rejeitado, haja vista, não havia nada que ele poderia fazer diante de tal determinismo. Então, sem Deus, José matou, roubou e pecou obstinadamente. Agora José está diante do Trono de Deus para ser julgado, mas, qual será a base deste julgamento?
Como julgar e condenar José por aquilo em que ele não tinha escolha? Em outras palavras, Deus predestinou José ao inferno e agora julga-o para condená-lo a perdição eterna? Isto é incoerente e impensável!
Imagina Deus bradar aos ouvidos de José no dia do julgamento: José, por que você matou e roubou? A resposta seria óbvia: que diferença faz? Eu matei e roubei e serei condenado, mas, se não tivesse matado e roubado, estaria perdido do mesmo jeito. O Senhor não me deu escolha e agora quer me condenar?
AS ESCRITURAS — Predestinação ou Livre-arbítrio
Predestinação ou Livre-arbítrio? Calvinistas ou Arminianos? As Escrituras ensinam, consistentemente, que o homem tem o poder de escolher livremente entre a vida e a morte, e Deus, com certeza, nunca violará esse poder. Deuteronômio 30:19
A Bíblia também adverte que é possível resistir a graça e perder a salvação: João 6:40; Hebreus 6:4-6; Hebreus 10:26-30; Hebreus 2:3; 2 Pedro 1:10; 2:21.
Controvérsias teológicas existem desde que os humanos começaram a debater sobre as coisas de Deus. Por isso, é importante ler e guardar na mente e no coração, Deuteronômio 29:29. As coisas reveladas pertencem a nós e as ocultas a Deus. Formular doutrinas em textos obscuros ou no silêncio da Bíblia é perigoso. Quando Deus se cala, nós nos calamos também.
Predestinação ou Livre-arbítrio
Independentemente do posicionamento teológico, é importante lembrar que a salvação é uma questão central da fé cristã e que cada pessoa deve buscar a Deus e a salvação em Jesus Cristo, de acordo com suas convicções e entendimentos. A predestinação é uma doutrina complexa e controversa que deve ser estudada e compreendida em seu contexto histórico e teológico.