Quem criou o mal? As opiniões são diversas e controversas. Não se pode negar a realidade do mal, ele existe e se manifesta através das tristezas, fracassos, derrotas, violência, e por fim a morte temida por todos. Ainda poderíamos crescer esta lista com outras manifestações do mal. Daí surge à pergunta: quem criou o mal? Foi Deus ou o Diabo?
Muitos atribuem a criação do mal ao Diabo. Mas, será mesmo ele o criador do mal? Muitos filósofos se aventuraram no decorrer do tempo a explicar a natureza, origem e prática do mal. No entanto, este não é um problema filosófico e sim teológico.
Este artigo tem por finalidade apresentar ferramentas de avaliação que ajudará você leitor, a compreender e formar sua própria opinião. Não aspiramos ser tendenciosos e impor, mas, expor uma posição teológica e bíblica. Cujo resultado é chegar a uma posição aceitável.
O Tema sob as Lentes de Vários Pensadores
Agostinho de Hipona
Agostinho de Hipona, filosofo Medieval e considerado um dos pais da igreja. Defendeu a ideia de que o mal não existe, ele é apenas a ausência do bem.
Agostinho desenvolveu uma teoria sobre a natureza do mal que influenciou significativamente a filosofia e a teologia cristã. Para Agostinho, o mal não é uma substância ou uma entidade em si, mas sim a ausência de bem. Ele argumentou que Deus criou o mundo perfeito, mas que a queda do homem em pecado resultou na entrada do mal no mundo.
Segundo Agostinho, o pecado é a causa do mal, e a única maneira de superará-lo é através da graça divina e da salvação em Jesus Cristo. Ele também argumentou que o mal não pode ser eliminado neste mundo, mas apenas no mundo vindouro, na vida após a morte. Em resumo, a teoria de Agostinho sobre o mal enfatiza a importância da salvação em Cristo e da graça divina para a superação do mal e a realização da perfeição divina.
Platão
Platão, um dos filósofos gregos mais influentes, apresentou sua própria teoria sobre a natureza do mal. Em sua obra “A República”, Platão argumentou que o mal é uma forma de ignorância. Segundo ele, os seres humanos são naturalmente inclinados a buscar o bem, mas às vezes são desviados por falsas crenças e desejos errôneos. Para Platão, o mal é o resultado de uma falta de conhecimento ou de uma má compreensão da realidade.
Ele também argumentou que o mal é uma força negativa que se opõe ao bem, e que a verdadeira felicidade só pode ser alcançada através do conhecimento e da virtude.
O mal segundo Aristóteles
Aristóteles, outro filósofo grego influente, tinha uma visão diferente sobre a natureza do mal. Para Aristóteles, o mal não é uma força ou entidade em si, mas sim o resultado da falta de equilíbrio ou proporção. Ele argumentou que todas as coisas têm um propósito e uma função específicos, e que o mal surge quando essas coisas não cumprem seu propósito ou função corretamente.
Por exemplo, a doença é um mal porque impede que o corpo funcione corretamente. No entanto, Aristóteles acreditava que o mal pode ser superado através da razão e da virtude. Ele argumentou que a virtude é a chave para viver uma vida boa e feliz, e que a virtude envolve encontrar o equilíbrio adequado entre extremos opostos. Por exemplo, a coragem é a virtude que se encontra no meio do medo e da imprudência.
O mal segundo Nietzsche
Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, apresentou uma visão muito diferente da natureza do mal em comparação com os filósofos antigos e medievais. Para Nietzsche, o mal não é uma força ou entidade em si, mas sim uma construção social criada pelos seres humanos. Ele argumentou que as noções tradicionais de bem e mal foram criadas por aqueles que detêm o poder para controlar e manipular as massas.
Segundo Nietzsche, o bem e o mal são relativos e subjetivos, e não há uma verdade absoluta que possa ser aplicada a todas as situações. Em vez disso, Nietzsche enfatizou a importância da vontade de poder e da afirmação da vida. Ele argumentou que devemos abraçar nossa natureza humana e seguir nossos desejos e impulsos naturais para alcançar a felicidade e a realização pessoal.
O mal segundo Schopenhauer
Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, apresentou uma visão pessimista e sombria da natureza do mal. Para ele, o mal é uma força inerente ao universo e expressa através do sofrimento humano. Ele argumentou que a vida é uma luta constante contra o sofrimento, e que o sofrimento é a verdadeira realidade da existência humana. Schopenhauer acreditava que o mal era uma força cega e irracional que governava o mundo, e que o livre-arbítrio humano era ilusório.
Em vez disso, ele argumentou que os seres humanos são movidos pelo desejo e pela necessidade, e que essas forças nos levam a agir de maneiras prejudiciais para nós mesmos e para os outros. Schopenhauer acreditava que a única maneira de superar o mal era através da renúncia ao desejo e da contemplação filosófica.
A origem do mal segundo a Bíblia
Percebe-se que o tema é complexo e, simultaneamente, relevante. Se por um lado exige atenção especial, em contrapartida, o esforço, recompensa e aproxima-nos de Deus. Principalmente, evita dar ao Diabo poder que ele não tem.
QUEM CRIOU O MAL SEGUNDO ISAÍAS 45.7
Quem criou o mal, observem o relato de Isaías, capítulo 45 versículo 7:
“Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu o Senhor, faço todas estas coisas”. Isaías 45.7 ARC.
יוֹצֵר אוֹר וּבוֹרֵא חֹשֶׁךְ עֹשֶׂה שָׁלוֹם
וּבוֹרֵא רָע אֲנִי יהוה עֹשֶׂה כָל־אֵלֶּה׃
Exegese do relato de Isaías
Analisaremos o versículo citado acima. A exegese é uma ferramenta indispensável na busca do conhecimento correto de um texto. A própria palavra exegese é “extrair ou tirar”. E é exatamente o que vamos fazer, analisar palavra por palavra.
Três verbos aparecem neste texto, e são os verbos que conduzem a ação. Aparece duas vezes o verbo “crio”, duas vezes o verbo “faço” e uma vez o verbo “formo”. Todos eles estão em primeira pessoa, três vezes o pronome pessoal de primeira pessoa “Eu”. O sujeito da ação destes verbos é o Senhor.
Por que Isaías usou três verbos diferentes para que surgissem a luz, trevas, paz e mal? Curioso isto. Por que não usou apenas um verbo, visto que daria sentido à frase? Aqui está a chave para compreender, os verbos em hebraico não são iguais os da língua portuguesa.
O primeiro verbo usado uma vez “formo”, este verbo remete a formar uma coisa a partir de algo existente e projetado pela própria essência de Deus. Por exemplo, no primeiro dia da criação Deus disse, haja luz e houve luz, no entanto, ele criou os luminares sol e lua só no quarto dia.
O segundo verbo usado duas vezes “faço” a paz e faço todas estas coisas. Observe a palavra shalom “paz”, a paz não está vinculada a ausência do mal. A paz é um estado de espírito tranquilo em meio ao caos (mal). Sem o mal a paz não faria nenhum sentido. Neste sentido, a teoria de Agostinho de que o mal não existe e é apenas a ausência do bem, não se justifica.
O terceiro verbo “crio” aparece duas vezes no versículo, “crio as trevas”, “crio o mal”. Este é o mesmo verbo usado na criação, quando Deus criou todas as coisas. Trata-se do verbo “bará”, criar a partir do nada, somente Deus é o sujeito deste verbo. Ou seja, somente Deus possui poder criador e mais ninguém, inclusive, o Diabo não tem poder criador.
DEUS CRIOU O MAL PELAS SEGUINTES RAZÕES
Deus criou o mal porque Ele mesmo afirmou em Isaías 45.7. Repare nas palavras “eu o Senhor” faço todas estas coisas. Se Ele mesmo disse que criou o mal, então, quem somos nós para dizer o oposto?
Deus criou o mal porque ninguém mais possui poder criador. Não se pode negar que o mal existe, se não foi Ele, então quem criou? O verbo bará é usado somente quando aplicado a Deus como sujeito da ação, e este é o caso citado acima.
O verbo bará é o mesmo usado no restante da criação. Negar que Deus criou o mal é negar também que ele criou todas as outras coisas.
O primeiro ser a escolher o mal foi o próprio Satanás quando ainda era um anjo no céu. Se Satanás escolheu seguir o mal, é porque o mal já existia. Se já existia, quem o criou? Só pode ser Deus.
POR QUE DEUS CRIOU O MAL?
Entendemos que Deus criou todas as suas criaturas livres, sejam anjos, sejam homens. Criou o homem, a Sua imagem e semelhança. A semelhança pressupõe o livre arbítrio. O livre arbítrio só faz sentido tendo possibilidade de escolha. Caso contrário seriamos como as máquinas manipuladas e conduzidas por alguém. Seriamos como os robôs.
Ora, se a liberdade pressupõe escolha, então, necessariamente teria que existir o bem e o mal. Sendo assim, todas as criaturas livres, inclusive os anjos só seriam possíveis com o mal já existindo. Entende-se, então, que o mal obrigatoriamente é anterior a tudo e todos, menos Deus que é anterior ao mal e criador dele.
O PECADO É UM MAL, DEUS CRIOU O PECADO?
A resposta é não. O significado literal da palavra חַטָּא “chatá” no hebraico é “errar o alvo”. Ou seja, errar na escolha. Deus não é culpado das decisões que advém do livre arbítrio. Sendo assim, Deus não criou o pecado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quem criou o mal? Deve-se entender que o mal possui duas variáveis que não pode ser desprezado. A primeira é o mau com (u) sendo um adjetivo, isto é, aquilo que determina a qualidade da ação “uma prática do mau”. Deus não pratica o mau.
A segunda palavra é o mal com ( L ) sendo um substantivo, este descreve a substância e determina a existência que possibilita a escolha, ou o livre arbítrio. Deve-se entender como “mal — bem” ou “mau — bom”. Sendo assim, Deus criou o bem e o mal, e suas criaturas escolhem ser bons ou maus.
Deve-se também evitar dar poderes ao Diabo que ele não tem. Ele não tem poder de criar nada, inclusive o mal. Ele atua nos limites que Deus permite. Você pode imaginar, se está criatura tivesse poder criador? Ele criaria um mal maior e destruiria Deus, isto é impensável. Somente Deus tem poder criador.
Deus criou o bem e o mal antes de toda a criação. Não existiria livre arbítrio sem a existência do mal. Deus não criou o pecado e muito menos pratica o mau. Um dia o mau será eliminado da terra com o Diabo e seus seguidores.
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