Mentir para salvar vidas? Abordagem Teológica e Secular

Mentir para salvar vidas? Este é um tema que merece ser discutido. São questões da vida que poucas pessoas refletem sobre elas. Aqui no Site Pensar bem faz bem abordamos este e outros estudos polêmicos para te ajudar nas decisões cotidianas. Neste Artigo trataremos deste tema sob as lentes da Teologia e na ótica secular.

Salvar vidas é obrigação de todos que se dizem cristãos. Nosso objetivo é formar uma geração de pensadores capazes de viver acima da mediocridade, alinhar o máximo possível com a vontade de Deus. Para isto recorreremos a vários textos bíblicos para observar o comportamento dos nossos antepassados, como eles agiram em determinadas situações, principalmente, como Deus reagiu. Ou seja, Deus aprovou ou reprovou, a conduta e as deliberações em cada caso citado.

Mentir para salvar vidas

Abordagem Teológica

De posse do versículo bíblico do Evangelho de João 8.44, “o Diabo é o pai da mentira”, muitas pessoas alegam não mentir de forma nenhuma para salvar uma vida. E sem misericórdia dizem que entregariam uma vida para ser morta nas mãos de seu assassino.

Analisaremos o tema em questão na profundidade que ele merece:

A matéria-prima de Jesus sãos as vidas, Ele mesmo morreu da forma mais cruel para salvá-las. No Evangelho de Marcos 8.36-37, Jesus atribuiu o valor de uma alma como mais valioso do que o mundo inteiro.

Pecado — Pecadinho — Pecadão

Para começar, precisamos analisar um erro que aparece como jargão na boca de muita gente: “Não existe pecado, pecadinho e pecadão”, ou seja, não existe pecado maior nem menor, são todos iguais. Isto é falso, vejamos a seguir:

Durante o julgamento no Trono Branco relatado no livro de Apocalipse. Sabemos que todos os julgados estão condenados, não haverá salvos neste julgamento. O fato de haver julgamentos para condenados, indica que haverá graus de julgamento, assim como haverá graus de galardão para os salvos. Lembrem-se, os tribunais existem para emitir um veredito, ou seja, condenar conforme o crime cometido.

Também não faz sentido o assassino de uma pessoa receber a mesma penalidade de um genocida, como o psicopata Hitler, no holocausto nazista.

Maior Pecado

Jesus falou para Pilatos: “Aquele que me entregou a ti, tem maior pecado”. João 19.11. Neste versículo Jesus fala claramente que há pecado maior. E se existe maior é porque tem, também, menor. E o fato de entregar alguém para ser morto é um pecado maior.

Preceitos mais importantes da Lei

Em Mateus 23.23 ele fala sobre os preceitos mais importantes da Lei: Justiça – Misericórdia – Fé.

Confira na Carta de Tiago 2.13,

“O juízo será sem misericórdia para com aquele que não usou misericórdia. A misericórdia triunfa no juízo”.
Tiago 2:13

Veja em Mateus 12.7: “Mas, se vós soubésseis o que significa: misericórdia, quero e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes”.

MENTIR OU NÃO MENTIR PARA SALVAR VIDAS?

Pecado Menor

Salvar vidas é correto, mentir não é certo e condenado na Bíblia, porém, a questão vai muito além da nossa vontade. O problema é que o pecado nos colocou numa posição de conflito. Haverá momentos em que estaremos entre dois pecados em que teremos que decidir, qual deles cometeremos. Não há uma terceira alternativa, nossa obrigação é sempre optar pelo pecado menor. Exemplo:

Se alguém entra na sua casa correndo e se esconde porque o assassino está a sua procura. Em seguida entra o assassino e te pergunta se a tal pessoa está em sua casa. Eis a questão, se você mentir o assassino vai embora e a pessoa vive. Se você não quiser mentir e entregar, a pessoa será morta.

No caso acima há um conflito entre dois pecados, “mentir” e salvar vidas é o pecado menor. Entregar é violar os preceitos mais importantes da Lei como em Mateus 23.23. A falta de misericórdia é o pecado maior.

São muitos os exemplos de conflitos entre dois pecados: A Bíblia nos manda obedecer aos governos humanos Tito 3:1; 1Pedro 2:13; Romanos 13:1. Desobedecer aos governos é pecado, porém, quando eles violam o mandamento de Deus, como no caso dos três amigos de Daniel que deveriam prostrar-se diante da estátua de Nabucodonosor que também era pecado. Prostrar-se era o pecado maior (idolatria), desobedecer ao Rei, pecado menor.

Mentir para salvar vidas com aprovação de Deus aparece em vários casos na Bíblia

As Parteiras mentiram Mentir para salvar vidas

As parteiras hebreias não somente mentiram como também desobedeceram à ordem clara de Faraó para matar as crianças de dois anos abaixo. Confira no livro de Êxodo:

ORDEM DE FARAÓ: “Quando ajudares no parto as hebreias e as virdes sobre os assentos, se for filho matai-o; mas se for filha, então viva” Êxodo 1.16.

AS PARTEIRAS: “temeram a Deus e não fizeram como o Rei do Egito lhe dissera, antes conservam os meninos com vida”. Êx 1.17. (cometeram o pecado menor da desobediência ao rei)

FARAÓ PERGUNTA AS PARTEIRAS: “…por que fizestes isto, que guardastes os meninos com vida”? Êx 1.18.

A MENTIRA DAS PARTEIRAS: “e as parteiras disseram a Faraó: é que as mulheres hebréias não são como as egípcias; porque são vivas e elas dão à luz antes que a parteira venha a ela”. Êx 1.19

AÇÃO DE DEUS: “Portanto, Deus fez bem as parteiras. E o povo aumentou e se fortaleceu muito”. Êxodo 1.21..

“E aconteceu que, como as parteiras temeram a Deus, estabeleceu-lhes casa”
Êxodo 1:21

(O texto é muito claro, Deus não reprovou a mentira das parteiras ao lhe fazer bem e estabelecer-lhes casa)

A PROSTITUTA RAABE MENTIU PARA SALVAR VIDAS

O REI DE JERICÓ: “Pelo que enviou o rei de Jericó a Raabe, dizendo: tira para fora os homens que vieram a ti e entraram na sua casa, porque vieram espiar toda à terra”, Josué 2.3.

RAABE MENTIU: “Porém, aquela mulher tomou a ambos aqueles homens, e os escondeu, e disse: É verdade que viram homens a mim, porém, eu não sabia de onde eram.” Josué 2.4.

“E aconteceu que havendo de fechar a porta, sendo já escuro, aqueles homens saíram; não sei para onde aqueles homens foram; ide após eles depressa, porque vós os alcançareis”. Josué 2.5

“Porém ela tinha feito subir ao telhado e os tinha escondido entre as canas do linho que pusera em ordem sobre o telhado”. Josué 2.6.

AÇÃO DE DEUS: “Porém, a cidade será anátema ao Senhor, ela e tudo quanto houver nela; somente a prostituta Raabe viverá, ela e todos que estiverem com ela em casa, porquanto escondeu os mensageiros que enviamos” Josué 6.17.

Raabe mentiu e curiosamente aparece na galeria dos heróis da fé mostrando que Deus não reprovou sua mentira: “Pela fé, Raabe a meretriz, não pereceu com os incrédulos acolhendo em paz os espias”. Hebreus 11.31.

Não podemos deixar de citar também que Raabe aparece na genealogia de Jesus, e seu filho Boaz também.

Outro caso é o de Obadias que escondeu cem profetas para salvar a vida deles. 1Reis 18.

Existem muitos outros casos como estes na Bíblia que poderíamos citar aqui, porém, o artigo ficará muito longo, creio que as informações são suficientes para aguçar sua curiosidade como estudante da palavra de Deus.

Situações de Conflito

Diante de situações de conflitos entre dois pecados devemos sempre escolher o menor, é nosso dever como cristãos fazer o máximo possível para preservar vidas: elas são a parte mais importante nas decisões. Parece-nos que Deus não nos considera culpados em decisões nas quais não há como escapar de um dos pecados, quando não há uma terceira alternativa.

O que é um mentiroso

Observação: No livro de Apocalipse 22.15 está escrito que os mentirosos não herdarão o reino dos céus. Primeiro precisamos perguntar. O que é um mentiroso? A resposta é aquele que vive na prática da mentira. Assim, se eu for pescar ocasionalmente por lazer, não faz de mim um pescador. Porém, se eu pescar diariamente para vender o peixe, ai sim! Serei pescador. Mentir para salvar uma vida não faz de mim um mentiroso, o mentiroso é quem vive na prática da mentira.

Abordagem Secular — Mentir para salvar vidas

Mentir é sempre errado, certo? Bem, não necessariamente. Em alguns casos, mentir pode ser justificado, especialmente quando a vida das pessoas está em jogo. Mas até que ponto é justificável mentir para salvar vidas? Neste artigo, exploraremos as nuances éticas e morais da mentira em situações de emergência médica.

O que é mentira?

Antes de discutirmos a ética de mentir em situações de emergência médica, é importante entender o que é mentira. De acordo com o dicionário, mentir é “fazer uma declaração falsa com a intenção de enganar alguém”. Em outras palavras, mentir é enganar deliberadamente outra pessoa.

Situações em que Mentir para salvar vidas pode ser justificado

Embora mentir seja geralmente considerado errado, há situações em que a mentira pode ser justificada. Um exemplo é quando a vida das pessoas está em jogo. Na medicina, por exemplo, os médicos muitas vezes têm que tomar decisões difíceis sobre o que dizer aos pacientes. Em alguns casos, mentir pode ser a melhor opção.

Mentir para salvar vidas

1. Preservar a esperança do paciente

Quando um paciente está gravemente doente, a esperança pode ser sua melhor amiga. Às vezes, mentir para o paciente e dizer que ele está melhorando quando não está pode ser a melhor opção. Isso pode dar ao paciente a motivação necessária para continuar lutando.

2. Proteger a privacidade do paciente

Outra situação em que mentir pode ser justificado é quando se trata de proteger a privacidade do paciente. Por exemplo, um médico pode mentir para um paciente sobre o estado de saúde de outro paciente se revelar informações confidenciais.

3. Evitar o pânico público

Em situações de emergência, como epidemias ou ataques terroristas, mentir para o público pode ser a melhor opção para evitar o pânico em massa. Nesses casos, as autoridades podem optar por não divulgar informações sensíveis ao público para evitar que as pessoas entrem em pânico.

As implicações éticas de mentir para salvar vidas

Embora mentir possa ser justificado em algumas situações, isso não significa que seja ético. Mentir pode ter sérias implicações éticas e morais, incluindo a quebra da confiança e a violação do dever profissional. A seguir, exploramos algumas das implicações éticas de mentir para salvar vidas.

1. A quebra da confiança

Mentir pode quebrar a confiança entre o médico e o paciente. Se um paciente descobrir que seu médico mentiu para ele, pode ser difícil reconstruir a confiança.

2. Violação do dever profissional

Os médicos têm um dever profissional de fornecer informações precisas aos pacientes. Mentir para os pacientes pode ser visto como uma violação desse dever.

3. Possíveis consequências a longo prazo

Embora mentir possa salvar vidas no curto prazo, isso pode ter consequências a longo prazo. Por exemplo, mentir para os pacientes pode dificultar o planejamento futuro e o tratamento adequado.

Conclusão

Então, mentir para salvar vidas pode ser justificável em certas situações, mas é importante reconhecer as implicações éticas e morais dessa decisão. Os médicos devem equilibrar a necessidade de salvar vidas com o dever de fornecer informações precisas e manter a confiança do paciente.

Em última análise, a decisão de mentir ou não deve ser tomada com base em uma avaliação cuidadosa das circunstâncias específicas. Em geral, mentir não deve ser uma solução fácil para situações difíceis.

Noé pregou para salvar?

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Gostaríamos de saber sua opinião, deixe um comentário abaixo, ela é muito importante. Porém, lembrem-se, mentir para salvar uma vida é o pecado menor. Quem entrega a pessoa para não mentir, comete o pecado maior, falta de misericórdia. E como está escrito em Tiago 2.13 “O juízo será sem misericórdia para quem não teve misericórdia”.

ADILSON CARDOSO

Adilson Cardoso: Teólogo, Filósofo — Professor de Filosofia, Teologia, Hebraico e Grego.

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